Novo livro de Reginaldo Prandi revela universo dos orixás a adolescentes
Reginaldo Prandi já escrevera livros sobre religiões afro-brasileiras para crianças e adultos. Um dos principais pesquisadores do país de sociologia das religiões, em especial das de origem africana, ele retoma seu tema favorito com o romance “Aimó – Uma Viagem Pelo Mundo dos Orixás”, voltado a adolescentes.
Aimó é o nome da protagonista, uma garota africana que foi escrava no Brasil e morreu antes de virar adulta. No romance, o espírito da menina vaga pelo Orum, o mundo espiritual, em busca de renascimento no Aiê, lugar dos vivos, a Terra.
Quem a conduz na viagem são Ifá, o deus do oráculo nas tradições iorubá e nagô, e Exu, transformado por Prandi num bom malandro, figura anárquica com a qual o leitor acabará por simpatizar.
“Transformei Exu, o orixá mais maltratado, que no Brasil é sinônimo de diabo, em personagem principal do livro [junto com a protagonista]”, diz o autor. “Fiz dele um herói ‘trickster’, um desses personagens místicos que gostam de pregar peças e fazer trapalhadas, como o Saci.”
Pelo caminho, Aimó é apresentada à mitologia dos orixás e conhece os principais, pois terá de escolher, ao fim da jornada (e do livro) de qual deles/delas será filha ao renascer. Contar o desfecho seria um spoiler. Mas pode-se dizer que o improvável epílogo é ambientado no Mercadão Central de São Paulo.
“Aimó” é o 35º livro de Prandi, 71. Paulista de Potirendaba, ele é professor aposentado de sociologia da USP e continua orientando teses na universidade. No ano passado, segundo levantamento a partir dos balancetes das editoras, alcançou a marca de um milhão de livros vendidos. Para um tema pouco divulgado, num país que lê pouco, é um fenômeno.
Parte desse êxito se deve à adoção dos seus livros em programas governamentais. Prandi vê como fator crucial o interesse do público por mitologia, de qualquer cultura.
Os carros-chefes entre seus best-sellers são “Mitologia dos Orixás” –obra de referência que reúne relatos sobre esses deuses– e “Minha Querida Assombração” –baseado em lendas da cultura caipira do interior de São Paulo–, ambos pela Companhia das Letras, casa que abriga o selo Seguinte, voltado para jovens, pelo qual sai “Aimó”.
Misto de tradição com ficção, o novo livro é muito didático, seja no texto ou nos aparatos ao fim do volume –uma nota do autor, um glossários sobre o tema, uma lista de orixás e um guia sobre o oráculo de Ifá (como ler os búzios, por exemplo).
Prandi conta que busca fazer os leitores gostarem da cultura afro-brasileira. “Se você gosta dos elementos de uma cultura, passa a ter menos preconceito. É um livro militante contra o preconceito religioso, que é também um preconceito racial.”
Questionado sobre sua religião, Prandi é matreiro feito Exu: “Tenho todas e nenhuma. É uma defesa, pois é meu objeto de trabalho, não posso fechar a porta de nenhuma delas. Quem estuda religião acaba descobrindo que é melhor não ter nenhuma”.
Mas é um filho de santo, adepto do candomblé ou da umbanda? “Sou um ogã, uma categoria à parte, alguém que está ligado ao grupo, uma espécie de protetor. O candomblé não tem ato de fé, não é preciso dizer que acredita para participar.”
Mas tem um orixá? “Todo mundo tem um orixá. O meu é Oxalá, o orixá da criação.”
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2017/07/1899335-romance-de-prandi-revela-cultura-afro-brasileira-para-adolescentes.shtml?utm_source=facebook&utm_medium=social&utm_campaign=fbfolha&cmpid=facefolha