Corpus Christi – Dia de Oxóssi

Explicar a razão pela qual o dia de Corpus Christi é dedicado aos festejos de Oxóssi requer uma análise profunda e delicada.

A princípio alguns podem pensar que é devido ao sincretismo, assim como o dia de Santa Bárbara é dedicado à Oyá e o de Nossa Senhora dos Navegantes à Yemanjá, ledo engano.

O dia de Corpus Christi é dedicado à Oxóssi pois sempre cai numa quinta-feira, dia da semana consagrado ao culto deste Orixá.

Esta foi a maneira que as sacerdotisas africanas, Adetá, Kalá e Nassô, juntamente com o sacerdote Bamgboxê Obitikô encontraram para recriar o culto a este Orixá em terras brasileiras nas quais o Calendário Gregoriano é adotado.

É importante ressaltar que o povo de Ketu foi escravizado no Brasil, principalmente na Bahia por uma estratégia dos portugueses e dos Fon (Jejes), que travaram uma aliança para roubar as riquezas de Ketu e exterminar com seu domínio financeiro e cultural naquela região africana.

Ketu era uma nação costeira, rica, de pequeno território e imensa cultura. O Daomé, a terra dos Fon era uma área interiorizada, com pouco acesso ao mar, dividido em tribos independentes e consequentemente com baixa hegemonia cultural e baixa riqueza concentrada. Sempre existiu uma certa rivalidade entre os Fon e os Ketu e a aliança com os portugueses foi uma maneira encontrada para alavancar o povo Fon à riqueza, exterminando o povo Ketu, exportando-o para o Brasil como escravos e eliminando o culto a sua divindade mais importante, Odé/Oxóssi, considerado rei e patrono daquela nação.

É sabido por todos, que a maneira mais fácil de varrer a identidade cultural de um povo do mapa é destruindo seus dogmas religiosos, vide o que acontece até hoje com os muçulmanos, que nas facções mais radicais imprimem sua cultura através da opressão religiosa.

Em terras africanas o culto à Oxóssi foi totalmente dizimado e até hoje não encontra-se referências a este Orixá naquele continente. O culto a Oxóssi foi totalmente recriado no Brasil,mais especificamente na Bahia e portanto não haveria melhor forma de homenagear seu Rei que dedicando um feriado ao seu culto.

Daí, no dia de Corpus Christi, os tambores ressoam o Aguerê, os Ogês são batidos freneticamente e o deus da caça é louvado com fortes gritos de Arole, Okê Arô Odé!!!

Nós Araketu (povo de Ketu) temos a obrigação de manter o culto a este Orixá fortalecido e cada vez mais atuante, pois é a garantia da manutenção da nossa identidade e o fortalecimento da nossa raiz e como já dizia o sábio “Quem fortalece sua raiz, garante uma árvore de tronco grosso, galhos fortes e frutos doces e abundanes.”

Fori Alaketu! Okê Arô, Okê bambo cimé, Arolê Odé!

Fonte: Ilé Axê Yá Mowô Yeyê – TECRM