O Ritual do Olorogun, você já ouviu falar?
Postado na página Casa de Oxumarê, no dia 11 de fevereiro de 2016
Durante o período da quaresma (calendário católico), muitas das antigas Casas de Candomblé da Bahia, interrompem suas funções, retomando suas atividades religiosas, somente no sábado de Aleluia.
O Ritual, em suma, acontece logo após o carnaval, em uma cerimônia em que todos os filhos de santo da casa, vestidos de branco, dançam ao som do Adahun (toque que tem por objetivo evocar os Òrìsàs à terra). Logo que todos os Òrìsàs se apresentam, os mesmos se recolhem para serem devidamente paramentados com suas vestes litúrgicas.
Na volta, os Òrìsàs retornam em dois grupos distintos (grupos “rivais”), carregando uma folha de Peregun na mão, sendo que na cabeça, os Òrìsàs usam somente uma rodilha (cada grupo de uma cor). Os dois grupos de Òrìsàs simulam uma guerra (Olorogun). No final da cerimônia, cada Òrìsà que está liderando um grupo, parte com uma Vara de Atori, que em sua extremidade leva um pequeno Apo (saco contendo elementos sagrados). Após a finalização da cerimônia, a casa interrompe todas as suas atividades religiosas, sendo retomadas somente no sábado de aleluia.
Os antigos comentam que nesse período, os Òrìsàs que habitam as terras Brasileiras, vão até sua terra de origem, na África, para novamente absorver as energias que os originaram e para lutar. Ao longo de todo esse período, os Òrìsàs de filhas iniciadas nessas casas, não manifestam em seus Ori.
É importante destacar que na África, havia períodos em que havia o resguardo de manifestação dos Òrìsàs e de atividades religiosas. Sobre isso, podemos recordar da passagem de Ògún, que após anos fora, ao chegar à sua cidade de Irê, ninguém o reverenciou, despertando sua ira. Após o ocorrido, quando o Pai de Ògún chegou e viu a destruição que seu filho havia feito, indagou o que havia acontecido. Ògún, de pronto respondeu que fizera tudo aquilo, pois ninguém o reverenciou. Ògún logo fora advertido, sendo informado por seu Pai que, todos estavam em resguardo religioso, não podendo lhe prestar homenagens.
Assim sendo, seja pelo Olorogun ou não, os Antigos Terreiros de Candomblé da Bahia, realizam um período de resguardo religioso. Há casas em que, por exemplo, esse período é de 7 dias e, em épocas distintas da quaresma.
Historicamente, acreditamos que o período da quaresma, foi escolhido por essas casas, em função das constantes perseguições que as mesmas sofriam. É importante recordarmos que, o sincretismo religioso foi o único modo que muitas casas encontraram para sobreviver a repressão, sendo que, quando os polícias iam terminar com as festividades, aqueles antigos mencionavam estar cultuando os santos da igreja católica e não Deuses Africanos. Nesse sentido, qual seria o argumento se à polícia fosse destruir um Candomblé, tocando na quaresma – período em que a igreja católica se resguarda?
Dessa forma, cremos que, não há sincretismo acerca do Olorogun, vez que muitos dos rituais que ocorrem, remetem-nos às passagens míticas dos Òrìsàs. É um belo ritual, cercado de mistérios e liturgia. No entanto, o período escolhido (quaresma) se deve à contundente perseguição que o Candomblé sofria. Hoje, é muito fácil recriminar e julgar, mas rituais como esses, ainda que não praticado no Terreiro de Òsùmàrè, contribuíram de forma decisiva para que o Candomblé chegasse até os dias de hoje no Brasil.
Fonte:Casa de Oxumarê